Gazeta literária .03
Encara-se com cepticismo o aparecimento na cena literária de figuras notabilizadas noutras áreas, neste tempo em que qualquer fumador verte em volume as suas experiências e conselhos quanto ao modo correcto de acender um cigarro. Armindo Naval merece uma excepção a esta atitude natural. Eminente marketeer, considerado pela Economist “o guru seminal dos tempos modernos”, Naval fez há dois anos uma pausa na carreira empresarial, no auge da sua genialidade. Acabara de inventar o revolucionário conceito “pague dois leve um”, e as reacções esfuziantes a este marco do pensamento tiveram nele um efeito paradoxal: retirou-se para um mosteiro tibetano e durante seis meses meditou, comeu unicamente bagas silvestres e iniciou uma obra literária que se pode já apelidar de extraordinária. O seu primeiro livro, “ Vermelho inominável”, um relato pungente das suas vivências no Tibete, indicia um prosador maduro, impressão confirmada em “A largura das pontes”, romance seco e “quase autista”, segundo Atilio Porrati. Seguiu-se a obra de divulgação científica “Quadrado - uma história recta”, que ampliou a franja de leitores, e um breve volume poético, “Sustento balizado”, eloquente demonstração da versatilidade deste autor.
Aguarda-se com enorme curiosidade o seu novo trabalho, “Pinturas murais nos mares da China”, ainda no prelo.