Chuínga .01
«Quero que encontre a mãe duma obra-prima»,
disparou o homem sentado à minha frente, fato de bom corte e sapatos brilhantes, todo ele exalando esse perfume requintado que nasce duma conta bancária robusta.
«A minha especialidade é a literatura, não os casos de família»,
chalaceei, e os seus olhos semicerraram-se absorvendo a ironia num lampejo breve. Senti na ponta dos dedos uma dormência suave, que noutras ocasiões se revelara um sinal de alarme mas podia agora não passar de reacção ao frio que se instala numa sala quando o seu ocupante não tem cheta no bolso para pagar o aquecimento.
«Se concluir a tarefa com êxito, senhor Gualter Ego, terá à sua espera obras completas de notas frescas.»
«Vejo que conhece os meus gostos, senhor...»
«César. Homero César»
Clássico. Percebi logo que este não seria um caso raso, um simples desemaranhar de literatura de cordel, mas algo com a profundidade que só os olhos de uma mulher traída e os ferimentos de bala fatais conseguem ter.
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